quinta-feira, 21 de maio de 2015

THE WHO

Se o Led Zeppelin tornou-se o símbolo dos anos 1970, os Beatles e os Rolling Stones sempre apareceram como as principais referências da década de 1960. Poucos lembravam da importância do The Who.

O grupo era formado por Pete Townshend (guitarra), Roger Daltrey (vocal), Keith Moon (bateria) e John Entwhistle (baixo). Foi a banda que mais influenciou o movimento punk no final dos anos 1970.

Assim como os Rolling Stones, The Who já fez mais de 50 anos tocando rock n’ roll. Também como os Stones, The Who apareceu como uma das principais bandas que saíram em excursão agora, em 2015, no verão dos Estados Unidos.

Músicos com mais de 70 anos, que eram símbolos da juventude na década de 1960, disputam agora espaços com jovens músicos para tocar em ginásios e estádios.

Existe, porém, uma diferença. Enquanto Mick Jagger (Stones) faz tudo (plásticas e outros truques) para parecer jovem na aparência e evita falar da idade, Pete Townshend (The Who) assume o ridículo da situação:

“A melhor maneira de lidar com isso é rindo da situação. É um absurdo, não é? Era um absurdo quando eu tinha 20 anos e torna-se mais absurdo ainda agora que estou com 70.
(...) Para mim, o primeiro acorde de 'I Can’t Explain' dita ‘o tom’ da noite. Será uma noite que fingirei ser o Pete Townshend da juventude? Ou fingirei e me comportarei como adulto? Em ambos os casos, eu acho que estarei fingindo...”*


O mais irônico de tudo é que o Who ficou conhecido nos anos 1960 por ser uma espécie de porta-voz da juventude (entre tantos outros) principalmente pelo sucesso da canção “My Generation”... que dizia claramente:

“Espero morrer antes de envelhecer.”

Dos quatro músicos, o único que cumpriu “a promessa” foi Keith Moon, que morreu de overdose em 1978. Kenney Jones entrou em seu lugar e o grupo continuou gravando e fazendo shows. Em 2002, morreu o baixista John Entwhistle. Mesmo assim, Pete Townshend e Roger Daltrey continuaram com os shows e as excursões (utilizando o nome The Who).

Pete Townshend, apesar de reconhecer o absurdo da situação, acredita que Robert Plant estaria errado ao recusar fazer shows ou gravar com o Led Zeppelin:

“Robert provavelmente poderia fazer tudo que quisesse. Ele poderia [inclusive] voltar com o Led Zeppelin e fazer muita gente feliz com isso.”**

Talvez. Na prática, porém, Robert Plant acaba reforçando o mito em torno do Led Zeppelin. O Who se confunde ao continuar a carreira com várias “excursões de despedida” e sem lançar músicas inéditas. Os Rolling Stones, pelo menos, fingem que nada mudou ao longo das décadas e continuam gravando, lançando álbuns e fazendo shows como se ainda estivessem com 20 anos.

De fato, essas três bandas apresentam três maneiras de envelhecer no universo “jovem” do rock n’ roll.


(*) Andy Greene. Who’s Done? Pete Townshend’s Ambivalent Farewell. Rolling Stone, May 7, 2015. http://www.rollingstone.com/music/features/whos-done-pete-townshends-ambivalent-farewell-20150507#ixzz3am7Qkihs
Em inglês: “It's fucking absurd, isn't it? It was absurd when I was fucking 20, it's even more absurd now I'm 70.
(…) The first chord of "I Can't Explain" for me kind of sets the tone for the evening. Is this going to be an evening in which I spend the whole evening pretending to be the Pete Townshend I used to be? Or do I pretend to be a grown-up? [Laughs] In both cases, I think I'm pretending. . . ”

(**) Andy Greene. Who’s Done? Pete Townshend’s Ambivalent Farewell. Rolling Stone, May 7, 2015. http://www.rollingstone.com/music/features/whos-done-pete-townshends-ambivalent-farewell-20150507#ixzz3am7Qkihs
Em inglês: “Robert could probably do everything that he wants to do. He could do the occasional Led Zeppelin comeback and make a lot of people very happy. There's a kind of churlishness to that [opinion]. But he's his own man, and he has to make his own decisions.
The person that I've thought a lot about since John Bonham's death is John Paul Jones. He's a beautiful looking man and a beautiful musician. He's a fantastic experimenter in modern electronic music and other things, and he's sort of been sitting there. It would be interesting to see what he could bring to a new Led Zeppelin project. I think he was much more in the front line of Led Zeppelin music on keyboard work because nobody else in the band played it. It was a prog rock era in respect to him.”