quarta-feira, 24 de junho de 2015

SXSW

Aparentemente democrático, o SXSW (South by Southwest) é um festival de música e outras atividades culturais.
Bandas (de várias partes do mundo) apresentam os seus trabalhos em Austin nos Estados Unidos.
Vi (na TV) grupos do Japão, Espanha, Inglaterra e outros lugares (inclusive do Brasil).
Pete Townshend ironizou o SXSW em sua entrevista na revista Rolling Stone:

 “Eu li algo hoje que seria necessário pagar uns US $ 10.000 para uma banda fazer o seu primeiro show no SXSW. (...) Você sabe, antigamente éramos pagos para fazer esse tipo de coisa.”*

O guitarrista do The Who tocou num ponto fundamental: antes eram pagos e agora os músicos precisam pagar para tocar. Aliás, Pete Townshend criou o seu grupo na fase inicial do rock (pelo menos na Inglaterra), na década de 1960. Tratava-se de algo novo que, com o tempo, seria um dos principais produtos da indústria cultural capitalista.
Não seria difícil, até os anos 1990, apontar os estilos e a melhor banda do período (principalmente em relação às três primeiras décadas): Elvis Presley (Anos 1950), The Beatles (Anos 1960), Led Zeppelin (Anos 1970), U2 (Anos 1980) e Nirvana (anos 1990).**
Entretanto, após a década de 1990, ocorreu a criação de inúmeros grupos que tocavam vários estilos musicais ou mesmo misturam esses estilos. Esses grupos, na maioria das vezes, não duravam muito tempo. Eram como aqueles que apareciam na capa do New Musical Express – com a legenda que iriam mudar a história do rock – e sumiam completamente da mídia após umas três ou cinco semanas.
Com as novas tecnologias, a facilidade de produzir e divulgar músicas coma Internet, esse fenômeno ficou mais comum. O sonho do punk - “do it yourself” – tornou-se uma espécie de praga, numa época em que qualquer um acredita que possui talento e que seria uma estrela internacional, inclusive, porque possuiria as facilidades de produção e de divulgação do “seu produto”.
Tudo isso virou, na prática, uma armadilha. Tratou-se basicamente de mais uma forma de ganhar dinheiro com os sonhos de “jovens ingênuos” que, para estranheza de Pete Townshend, acreditam que pagar 10.000 dólares para tocar no SXSW seria a verdadeira “fórmula do sucesso” (mesmo sendo uma banda punk, “alternativa” ou de heavy metal).

 © profelipe ™

(*) Andy Greene. Who’s Done? Pete Townshend’s Ambivalent Farewell. Rolling Stone, May 7, 2015. http://www.rollingstone.com/…/whos-done-pete-townshends-amb…
“I read a thing today that it cost the average band $10,000 to go and play their first gig at SXSW. You know, we used to get paid to do this kind of thing.”
(**) Almanaque do Rock: De A a Z – os nomes que mudaram o mundo da música, p. 86-87.

sábado, 13 de junho de 2015

“Boy Band”

Passei boa parte da minha vida ouvindo “rock pesado” (utilizo aqui um termo genérico para o tipo de música identificado – até a década de 1970 – como “hard rock” ou “heavy metal”). Quase todo adolescente usava a “música barulhenta” para mostrar que era diferente dos pais. Tratava-se de uma forma de afirmação e de criação de uma identidade própria.
Eu era radical e não podia nem ouvir falar de “pop music”. Fui assim até ouvir o Power Station. Era um grupo formado pelo vocalista Robert Palmer e os músicos da banda pop mais famosa em 1985 – Duran Duran – e outros da “dance music” do final dos anos 1970 – Chic. Em resumo, o som tinha tudo para ser superficial e dar errado. Entretanto, o primeiro álbum era “pesado” e com estilo próprio. Fizeram algo diferente dos seus grupos originais.
Vi no Rio o show dos B-52’s com a participação da Tyna Weymouth e Chris Frantz (Talking Heads e Tom Tom Club). O preconceito que eu tinha contra o que não fosse “rock pesado” acabaria naquele momento. Desde então, claro, ouvi e me diverti bastante com o som de Duran Duran, Arcadia, Talking Heads...
Contudo, não podia ser qualquer coisa que levava o nome “pop” que poderia ser aceita.
Estabeleci um limite: deveriam ser músicos. Parece óbvio, mas o que eu queria dizer era que não aceitava o estilo “boy band”, ou seja, alguns adolescentes dublando e dançando no palco para que as meninas de 12 anos pudessem liberar os seus gritinhos.
A lista desse tipo de grupo é longa, mas quase todo mundo lembra de nomes como Menudo, Take That, New Kids on the Block, Backstreet Boys, entre outros. Parece que a última “pérola” neste contexto veio com One Direction.
Não dá para engolir.
O pior é ver verdadeiros músicos – como os dos Rolling Stones – passarem por situações constrangedoras exatamente por se envolver em shows ao vivo com meninos de “boy bands”.
Foi o que aconteceu em Toronto quando os Stones aceitaram a participação de Justin Timberlake do 'N Sync para cantar a música “Miss You”. Foi um desastre, com vaias e objetos jogados no palco da “maior banda de rock do mundo”.
Sem aprender a lição, Ron Wood aceitou tocar com a One Direction (ver foto) num programa de talentos chamado “X-Factor”. A justificativa do guitarrista dos Stones ainda foi pior:
“Eu acho que consegui 500.000 novos seguidores no Twitter numa única noite!”*
Querer ser moderno e parecer jovem podem ser coisas normais. Deveriam existir, porém, limites para certas situações.

 © profelipe ™