domingo, 29 de maio de 2011

RIVALIDADES E INTRIGAS NO ROCK N' ROLL

Quem gosta de rock, sabe que a "alma" dos Rolling Stones seria o Keith Richards. O Mick Jagger seria o showman e o economista, aquele que cuidaria administrar da própria imagem e saberia como tirar proveito da banda. Existe uma história (ou seria lenda?) que quando o Jagger decidiu escrever as suas memórias, se deparou com um problema: ele não lembrava de nada...
Jagger tentou carreira solo na década de 1980, mas não deu certo. Richards foi claro: ele precisa da banda. Estava certo. Os Rolling Stones nunca separaram ou pararam de gravar ou de fazer shows. Há uma continuidade na história do grupo, definida a partir da dupla de compositores.
Durante muito tempo, os Stones carregaram o título de maior banda de rock do mundo, mesmo na década de 1970, quando o destaque era o Led Zeppelin. Tudo seria perfeito se, antes deles, não existissem os Beatles. O olhar de John Lennon para Jagger e seu grupo sempre foi de um certo desprezo. Mesmo em sua última entrevista, antes de ser assassinado, Lennon ironizava o fato dos Stones ainda estarem juntos: 
"Quando você tem 16 anos é certo ter companhias e ídolos masculinos. É coisa de tribo, tudo bem. Mas, quando você ainda faz isso aos 40, significa que, na cabeça, você ainda não passou dos 16." 
Na mesma entrevista, Lennon disse que ele e o Paul McCartney deram uma música para os Rolling Stones: "I wanna be your man". E completou: 
"uma esmola. Isso mostra a importância que a gente atribuía a eles. Nós não lhes daríamos algo que fosse realmente estrondoso, não é?"
O desprezo de Lennon em relação ao Mick Jagger aparece claro no musical organizado pelos Stones "Rock n' Roll Circus". Nas entrevistas, o vocalista dos Beatles sempre se referia à Jagger como "Michael"...
A competição entre os músicos de rock nunca foi novidade. Jimmy Page, na época do auge do Led Zeppelin, quando o grupo quebrava todos os recordes de público e de venda de discos, reclamava que a imprensa insistia em dar destaque aos Stones. Não foi por acaso, que durante a existência do grupo, raras eram as entrevistas de Page, Plant, Jones e Bonham. Em atividade, o Led Zeppelin não aparecia em programas de televisão. Preferiam mostrar suas músicas ao vivo, nos shows e nos álbuns. Quando acharam que deviam dizer algo, fizeram um filme: "The Song Remains The Same". A banda acabou em 1980, com a morte do baterista. Como os Beatles, apesar das ofertas milionárias, os músicos recusaram seguir em frente sem John Bonham, o que só reforçaria o mito que se criou em torno do grupo.
Qualquer história do rock n' roll, inclui necessariamente os Beatles, os Rolling Stones e o Led Zeppelin. Houve músicos antes e depois, claro, mas os três aparecem como referências fundamentais para se entender a música feita na segunda metade do século XX. Assim, as rivalidades e intrigas podem ser lembradas. No entanto, não como algo determinante. Elas servem mais para criar os mitos deste estilo musical, que, no final das contas, acabam sendo negadas pelos músicos, como foi o caso do livro "Hammer of Gods", que tratava dos bastidores das tournées do Led Zeppelin. 

SYD BARRET E O PINK FLOYD

Ouvi "The Dark Side of The Moon" do Pink Floyd na década de 1970. As músicas eram tocadas em algumas festas. A fase psicodélica, com a liderança de Syd Barret, ouvi, pela primeira vez, era Brasília, na casa de parentes. Na época, achei o som estranho. Gostava mais das bandas de rock pesado.
O Pink Floyd teve três fases, representadas pelos seus músicos principais em cada período:  Syd Barrett, Roger Waters e David Gilmour. A última fase, como trio, e sem a presença de Waters, nem é considerada, para muitos, uma fase do grupo. De fato, o trio parecia mais uma banda cover nos shows e, nos discos, somente repetia as fórmulas do passado. No mesmo período, os cds solos de Roger Waters eram mais interessantes. A maior parte da produção do Floyd foi feita sob a liderança de Waters, passando, inclusive, pelo sucesso de "The Wall" encerrando com "The Final Cut".
Com Syd Barret, foram dois álbuns: "The Piper at the Gates of Dawn" e "A Saucerful of Secrets". O guitarrista original, por causa de doses de LSD, foi considerado louco e sem condições de continuar na banda. Foi substituído por David Gilmour. O caso dele foi diferente do Brian Jones, líder dos Rolling Stones nos anos 1960, que foi demitido e morreu em seguida. Os outros membros do Pink Floyd tentaram manter Barrett no grupo, mesmo considerando que ele não tinha condições psicológicas de participar dos shows. Entretanto, não foi possível e Gilmour entrou no seu lugar.
Syd Barrett, ídolo no início do Pink Floyd, tornou-se um recluso depois da metade da década de 1970. Voltou a morar com a família e faleceu em 2006. Foi criado um certo mito em torno do seu nome. Os outros membros nunca deixaram de citá-lo e fazer elogios quanto à sua influência e à sua participação na história do Floyd. 
Acredito que as brigas entre Waters e Gilmour pelos direitos do Pink Floyd mancharam a trajetória do grupo. David Gilmour errou ao insistir com discos e shows usando o nome do Floyd, e sem a participação de Waters. De certa forma, aquele que não membro original liderou a fase da decadência do supergrupo. É triste ver os dvds dessa última fase: uma multidão de músicos no palco e um excesso de luzes e recursos tecnológicos. Ainda bem que existem outras opções, como o filme, gravado em 1971, "Live At Pompeii".

KISS

O grupo Secos & Molhados revolucionou a MPB na sua curta existência. Em plena ditadura militar, músicos mascarados e andróginos confundiram e excitaram o imaginário nacional. O auge foi em 1973. Nos Estados Unidos, em fevereiro de 1974, era lançado o primeiro álbum de outra banda de mascarados: o Kiss. A primeira diferença seria que o grupo norte-americano existe até hoje. Existe uma certa polêmica se eles copiaram a idéia das máscaras dos Secos & Molhados ou não. Os membros do Kiss já falaram que eles foram influenciados pelo teatro japonês. De fato, porém, antes deles lançar o primeiro LP, a banda brasileira já era um grande sucesso e a hipótese de cópia do Kiss não parece ser absurda.


Os músicos do Kiss tiraram as máscaras a partir do álbum "Lick It Up". Antes eles escondiam as suas identidades e não apareciam em público sem as máscaras. Foi o disco sem dois membros originais da banda: o baterista Peter Criss e o guitarrista Ace Frehley. Foi também o início de um período de decadência do grupo, reconhecida atualmente pelos próprios músicos. Foram quase duas décadas de discos e músicas inexpressivas, além de ocorrer a troca de músicos, exceto os considerados donos do Kiss: o baixista Gene Simmons e o guitarrista Paul Stanley. 


As coisas mudaram quando foram gravar o "unppluged" da MTV e convidaram os antigos músicos da fase original. Fizeram uma apresentação usando as máscaras, como na década de 1970 e foi uma grande sucesso. Gravaram um cd com os quatro músicos - "Psico Circus" - e fizeram uma "tour" mundial. Entretanto, mesmo com o sucesso, como havia ocorrido antes, os conflitos internos predominaram e houve as saídas de Peter Criss e Ace Frehley. A diferença, desta vez, foi que os novos músicos utilizariam as mesmas máscaras de Criss e Frehley, representados, respectivamente, como "The Catman" e "Space Ace". Os outros personagens seriam "The Demon" (Gene Simmons) e "Starchild" (Paul Stanley). Na primeira vez que foram substituídos no Kiss, a opção havia sido outra: o guitarrista Vinnie Vincent usou a sua própria máscara e o mesmo aconteceu com o baterista Eric Carr. 


Uma observação sobre os personagens originais: apesar de ser "The Catman", Peter Criss utilizava um grande crucifixo no peito, nos primeiros shows. Posteriormente, ele tatuaria o crucifixo no braço. Talvez ele tentasse ser um contra-ponto ao personagem de Gene Simmons - "The Demon" -, que gerava mais polêmica e levava as pessoas a associaram a banda com o ocultismo, descrevendo as iniciais do nome do grupo como "Kings (ou Kids) In Satan's Service". O último show dos músicos, usando máscaras, foi no Brasil, no Maracanã. Na época, em Belo Horizonte, houve protestos de religiosos contra os shows do grupo no país.  

THE ROVER

Eu sempre fui fã do Led Zeppelin. Houve uma época que não havia fã-clube do grupo no Brasil. Então, decidi criar The Rover, que foi um fanzine trimestral - existiu entre 1984 e 1986. Eu datilografava o jornal e traduzia as matérias. No final, colocava as fontes e os agradecimentos quanto aos que me ajudavam naquele volume. 


Havia as "newsletters", com uma folha apenas. Elas eram enviadas quando havia algo especial, como uma entrevista e alguma notícia de última hora. Eu assinava um jornal norte-americano chamado Feathers in The Wind, que era uma fonte importante sobre as atualidades dos músicos do Zeppelin.


No período - 1984-1986 -, o computador pessoal não era comum e não havia internet. Eu estudava inglês, francês e alemão, mas ainda cometia muitos erros em relação ao português - que apareciam no The Rover. No Brasil, os shows de bandas internacionais eram raros - o que mudaria com o Rock in Rio em 1985. Estive lá para prestigiar "a noite do heavy metal", com Whitesnake, Ozzy Osbourne, Scorpions e AC/DC.  


O surgimento de outros fã-clubes do Led Zeppelin no Brasil e o fim do jornal Feathers in The Wind foram os principais fatores que levaram-me a encerrar as atividades do The Rover. 

SHOWS DE ROCK

Aqui no Brasil, para se ver o show de uma grande banda de rock, normalmente você tem que ir num estádio. Foi assim que vi, por exemplo, The Rolling Stones, U2 ("Pop Mart Tour") e AC/DC. É difícil assistir ao show de um grupo assim num lugar pequeno. No caso do U2, tive a oportunidade de vê-los num ginásio em Paris - experiência bem mais interessante que o show no Morumbi.




Bandas consideradas "independentes" podem vir ao país e tocar em casas de espetáculos, não em estádios. Nesta categoria, vi, por exemplo, Cocteau Twins (SP), The Sisters of The Mercy (SP e Rio) e Jesus and Mary Chain (Rio). Fora do Brasil, vi um show do Depeche Mode em Frankfurt. Vendo por esse lado, o estádio não parece ser um lugar adequado para um show (mesmo sabendo que em alguns casos, não existiria outra alternativa).


O festival podem ser uma oportunidade para ver os grupos "alternativos". Vi Sonic Youth em São Paulo (o show não foi lá essas coisas...). No mesmo festival, um show que valeu a pena: Nine Inch Nails. Assistir B-52's ao vivo com a participação de Tina Weymouth e Chris Frantz do Talking Heads foi uma das melhores experiências que tive. No Rio, em outro festival, vi Jesus Jones. Na época, gostei do show. Mas o fim da banda não me incomodou. Ver, em Sampa, The 69 Eyes foi uma boa experiência, pena que foi durante o dia e o sol estava muito quente (algo incompatível com o estilo do grupo). Tristania, em 2008, também pareceu estar no local errado e ser escalada num horário inadequado. Isso, claro, afeta a qualidade do show.


Um problema do festival é a quantidade de bandas. Isso acontece não só porque quantidade não representa necessariamente qualidade. Outra coisa é que você vê tanto grupo que depois esquece do que viu. Neste sentido, eu vi e não lembro uma música de shows como Ugly Kid Joe, Joe Cocker (infelizmente...), Santana (idem...), No Doubt, Terence Trent D'Arby e Information Society (ainda bem...).


Um dos melhores festivais foi o Hollywood Rock de 1993. As bandas eram Nirvana, Alice in Chains, Red Hot Chili Peppers e L7. Precisaria mais? O show mais "interessante" que vi (não encontro outro adjetivo) foi o do Happy Mondays no Maracanã (praticamente vazio), debaixo de um temporal, as duas da manhã, no Rock in Rio II, depois do A-Ha e do Paulo Ricardo. Entre os primeiros a se apresentar naquele sábado, estavam Debbie Gibson (depois deixou de ser famosa e posou para a Playboy americana...) e Information Society (um grupo que tocou, inclusive, em Uberlândia... assim como o A-Ha). Em 1991, o Happy Mondays era a principal banda da cena "alternativa" inglesa. Eu sabia da importância dos caras pois lia bastante os jornais Melody Maker e New Musical Express. Infelizmente, naquele noite, não havia muita gente assim no Maracanã.  

EGOS E IRONIAS NO ROCK

O Led Zeppelin foi formado por dois experientes músicos de estúdio - Jimmy Page e John Paul Jones - e dois jovens desconhecidos - Robert Plant e John Bonham), sendo que um revolucionaria o jeito de tocar bateria e definiria, de certa maneira, o caminho que o grupo iria tomar (inicialmente, Page havia pensado em formar um grupo mais acústico, "folk"). 


O mais inexpressivo no começo da banda era o vocalista Plant - tão inexpressivo, que, na época, o assistente do empresário do Led Zeppelin, Richard Cole (sim, aquele indivíduo de bigode que leva uma bronca enorme de Peter Grant no filme "The Song Remais The Same") mandou o vocalista comprar sanduíches para o pessoal do grupo (ver o livro "Hammer of Gods"). Claro que logo essa situação mudaria e Robert Plant seria um dos destaques do Zeppelin e um dos ícones do rock.


Depois do fim da banda, Plant gostava, algumas vezes, de fazer trocadilhos ou falar mal do Led Zeppelin. Talvez ele nunca tenha esquecido a humilhação de Richard Cole... Quando fez o seu primeiro disco solo, "Pictures of Eleven", ele o mostrou para os ex-companheiros Page e Jones. Page aprovou. Jones fez críticas: 


"Bem, ah, eu pensei que você poderia ter feito algo um pouquinho melhor, velho amigo." Ao que Plant respondeu: "bem, obrigado. E mais uma vez, eu sou apenas o cantor das músicas." (Guitar World, July 1986, p. 64)


Robert Plant não esqueceria as críticas de John Paul Jones. Quando resolveu fazer o "unpplugged" da MTV do Page e em seguida grava dois álbuns e realizar duas tours, Plant responderia ao baixista do Zeppelin. Sempre que era questionado por que Jones não havia sido convidado para participar do projeto, Plant respondia com alguma piada ou ironia, como "Jones ficou lá fora estacionando os carros..."


Quando Jimmy Page fez o projeto com David Coverdale, Robert Plant o criticou bastante, sobretudo afirmando que Coverdale o imitava e que se o que ele (Plant) fazia na época (do Zeppelin) já era ridículo, imagina o que sobraria para os plagiadores.


Robert Plant exagerava, claro, e não poupava nem a si mesmo. As ironias quanto à importância do Led Zeppelin devem vir do fato de que tudo na banda era criado e controlado por Jimmy Page. Não havia dúvidas de que se tratava do grupo de Jimmy Page. Plant era "apenas o cantor das músicas." Apesar de ter feito letras interessantes, como "That's the Way", "Going to California" e "The Rain Song", o vocalista era acusado de plágio. A sua justificativa seria que nem sempre dava para acompanhar a criatividade musical de Jimmy Page. Ou seja, o guitarrista chegava com a música e ele tinha que criar a letra. Nas palavras do próprio Robert Plant:


"O 'riff' do Page é o 'riff' do Page e pronto. Ele estava lá antes de qualquer coisa. Daí, eu pensava: 'bem, o que eu vou cantar?' Foi isso [com a letra de Whole Lotta Love], um plágio. Ainda bem que agora já foi pago. Na época, houve muita conversa sobre o que fazer. Foi decidido que a música estava tão além do seu tempo... Bem, você só é descoberto quando faz sucesso. Esse é o jogo." (Musician, June 1990, p. 47)


O reconhecimento do talento de Jimmy Page não era feito somente pelos companheiros de banda. Na época em que era músico de estúdio, Page participou de gravações de grupos como The Who e The Kinks. Keith Richards conheceu Page com a ajuda de Ian Stweart (o "sexto" stone) - aliás, Stu foi um dos poucos que participou de um disco oficial do Led Zeppelin. Jimmy Page participou de alguns discos dos Stones na década de 1960, assim como John Paul Jones. Depois do fim do Zeppelin, Richards chamou Page para ajudar no álbum "Dirty Work". Sobre a relação entre os dois, Richards lembrou uma história interessante:


"De fato, para 'Heart of Stone', Jimmy fez a demo original. Andrew [Loog Oldham, produtor] iria passar a música para outra pessoa. Assim, quando decidimos que 'nós' faríamos a música, eu copiei o solo de Jimmy (quase) nota por nota." (Guitar World, July 1986, p. 72)


Falar da história do rock é tratar de egos e de ironias. Talvez por isso seja praticamente impossível pensar numa análise freudiana no que diz respeitos os ícones deste estilo musical...

THE MONKEES & JIMI HENDRIX

Quando eu era adolescente, costumava ver a série dos Monkees na TV. Tratava-se de um grupo criado pela indústria cultural para aproveitar o sucesso de bandas como os Beatles. 


The Monkees era uma cópia dos rapazes de Liverpool. O simulacro ainda ganhou "vida" em discos e shows. 


O pior foi que, na época, o Jimi Hendrix foi escalado para abrir os shows dos garotos. Como isso seria possível? Seria algo como o AC/DC ou o Megadeth abrir um show para grupos como New Kids on The Block ou Backstreet Boys... Certamente o empresário de Hendrix deve ter achado que daria certo. Não deu. Em 29 de julho de 1967, saiu a notícia no New Music Express:


"Problemão com as garotinhas. Hendrix ligou para o NME para dizer que deixou a tour dos Monkees nos Estados Unidos. (...) Ele disse que os pais das jovens fãs dos Monkees o acusavam de ser vulgar."


Certamente você já ouviu falar de Jimi Hendrix e sabe a sua importância na história do rock. E os Monkees? Foi uma moda passageira como seriam os outros grupos criados pela indústria fonográfica, como Menudo, Bros (sucesso só na Europa), New Kids on The Block, Backstreet Boys, entre tantos outros. 


Uma vez, vi um show de um grupo de mulheres, Go Go's, que eram acusadas de não tocar os próprios instrumentos. No show, atrás da meninas, dava para ver os verdadeiros músicos fazendo o trabalho. Isso foi em 1985. Atualmente, é comum cantores, cantoras e grupos que tocam "playback" em shows que deveriam ser ao vivo. Britney Spears não é a única. Patético. 

SIR MICK JAGGER

"Mas eu não vou parar de escrever, pelo menos vou querer me divertir com isso. Estou cansado de fazer coisas longas, sombrias e sérias." Henry Miller - 1976.


O ritmo de "Sympathy For The Devil" foi influenciado pelo samba, que Jagger e Richards conheceram em sua visita ao Brasil. A letra é excelente:. a formalidade do início, os eventos históricos e, no final, a revelação do nome do sujeito. É interessante que os Rolling Stones não insistiram na fórmula e nem em coisas associadas ao ocultismo. 


O Black Sabbath, por exemplo, construiu a sua história a partir desta idéia, mesmo os seus membros não sendo ocultistas. Na verdade, eles queriam que a música e as letras do grupo tivessem o impacto parecido ao que os filmes de terror causavam. Nem todos entenderam a mensagem do grupo desta maneira.


Os músicos do Led Zeppelin, especialmente o Jimmy Page, não escondiam a simpatia pelo ocultismo. Apesar de influenciar algumas letras da banda, Robert Plant tratou de outros temas nas músicas do Zeppelin. Cada álbum era diferente e eles tocavam diversos estilos, incluindo o "folk" e o "blues".


Ao longo da história do rock, o ocultismo acabou associado ao heavy metal e aos estilos parecidos. O som pesado parecia adequado. Entretanto, não pode deixar de ser levar em conta que, na sua origem, na década de 1950, o rock era tido como a "música do diabo".  Certamente, a dança, considerada sensual, na época, e o sentimento de rebeldia dos jovens devem ter contribuído para o rótulo. Contudo, algumas décadas depois, o rock não assusta mais. Ao contrário, foi incorporado na indústria cultural e seus líderes, antes rebeldes, passaram a receber condecorações da rainha da Inglaterra, como "Sir" Mick Jagger.

POP MUSIC: BEATLES & DURAN DURAN

1985 foi um bom ano. Em janeiro, vi, pela primeira vez, grandes bandas internacionais no Rock in Rio. Houve o Live Aid. Era a época da MTV, um canal que existia em função da música. O Duran Duran foi o grupo que mais representou este período.


Na década de 1980, houve uma "duran mania" assim como antes, nos anos 1960, tinha ocorrido a "beatlemania". Existiram diferenças. No caso dos Beatles, havia uma clara irritação com a histeria das fãs, sobretudo nos shows, quando simplesmente não era possível ouvir os músicos por causa dos constantes gritos e da infra-estrutura de som inadequada para o rock nos ginásios.


Vinte anos depois, isso não seria problema. A histeria das fãs era bem aceita tanto nos ginásios e estádios como fora deles. A produção dos vídeos e das fotos era levada tão a sério como a criação da música.

Foi no final desta década (anos 1980), inclusive, quando vi o show do Paul McCartney no Maracanã, na primeira vez que ele tocou no Brasil. O que mais gostei foram as músicas do álbum "Stg. Pepper's Lonely Hearts Club Band"

No que diz respeito ao Duran Duran, vi o grupo em 1988, também no Rio, na Praça da Apoteose ("Notorious Tour"). A banda ainda estava no auge e o show foi inesquecível.

Como todo supergrupo, os músicos do Duran Duran tiveram problemas com tanto sucesso e dinheiro.  A solução foi dividir provisoriamente o grupo em dois projetos: Power Station (o baixista John Taylor e o guitarrista Andy Taylor) e Arcadia (o tecladista Nick Rhodes, o vocalista Simon Le Bon e o baterista Roger Taylor). Os respectivos álbuns venderam bastante. O Arcadia produziu belos (e caros) vídeos para as músicas do disco, com destaque para a faixa "Election Day". O Power Station, com um som mais pesado, preferiu os shows. No episódio do Live Aid, John e Andy Taylor tocaram duas vezes: com o Duran e com o Power Station.


No álbum seguinte, "Notorious", o Duran tornou-se um trio, com as saídas de Andy e Roger Taylor. A banda havia sido criada por John e Nick Rhodes. Portanto, a sonoridade pop continuaria e o sucesso também (exceto em alguns CDs, como os fracos "Liberty" e "Pop Trash").

THE SISTERS OF MERCY

The Sisters of Mercy é uma banda criada em 1980, sob a liderança de Andrew Eldritch. Ela é chamada de gótica, rótulo sempre recusado por seus membros. O nome não é muito original, na medida em que está associado ao grupo que praticamente inventou o "gohtic rock": Joy Division. 

Isso, contudo, não diminui a importância dos Sisters, sobretudo quando lembramos das letras de Eldritch. Musicalmente, mesmo sendo uma banda de rock and roll, a sua base é uma bateria eletrônica - Doktor Avalanche. Eles gravaram vários compactos, um EP e três CDs - "First, Last and Always", "Floodland" e "Vision Thing". São especialistas em gravar versões diferentes e originais de outros artistas, como "Gimme Shelter" dos Rolling Stones, "Knocking on the Heaven's Door" do Bob Dylan e "Comfortably Dumb" do Pink Floyd. 

Na época de "Floodland", Eldritch dizia que a banda não tocaria ao vivo mais. Na década de 1990, com a revolução do MP 3 e a troca de músicas pela internet, a sua visão mudou. Talvez a briga jurídica com a sua gravadora - no período - tenha ajudado. O fato é que o grupo Sisters of Mercy não lançou mais um CD de músicas inéditas e optou por ser uma banda de rock ao vivo, tocando, todos os anos, nos festivais europeus e mesmo fazendo "tours" mundiais - vieram três vezes ao Brasil. 

DIVAGAÇÕES SOBRE O ROCK N' ROLL

Se o rock nasceu em 1955, ele morreu com o suicídio de Kurt Cobain e o fim do Nirvana. No início, os ídolos do rock n' roll demonstravam, em suas atitudes algumas, as características que seriam marcantes nesse estilo musical: o "sex symbol" Elvis Presley, a rejeição da imagem do "velho" de Bill Harley, a homossexualidade de Little Richards e o cantor-guitarrista Chuck Berry.
Outro ponto relevante foi a maioria de homens em todas a história do rock. Raros foram os grupos só de mulheres como Runaways e L7. As mulheres ocupavam mais o papel das fãs, desde as adolescentes histéricas da beatlemania às "groupies" da década de 1970. Se o rock foi um movimento, sem dúvida, ele foi machista. O lema "sexo, drogas e rock n' roll" não alterava o modelo tradicional de casal heterossexual. O que mudaria seria a liberdade na vida sexual dos casais. Os méritos das conquistas das mulheres e dos homossexuais pertencem a esses movimentos específicos e não ao rock n' roll.
O rock era algo dos jovens. Havia a idéia de que seria bom morrer antes de envelhecer. Muitos acreditaram nisso. Na década de 1960, era dito que não se podia confiar numa pessoa com mais de 30 anos. O "ser" jovem foi substituído, na prática, faz tempo, pelo "parecer" jovem. Os ídolos do rock não podem ser gordos e caretas. A auto-destruição criou mitos como Jimi Hendrix, Janis Joplin e o próprio Kurt Cobain. As mortes, normalmente, estavam associadas ao uso excessivo de drogas (Hendrix e Joplin) - ou de álcool (Bon Scott e John Bonham) ou mesmo ao suicídio (Ian Curtis e Kurt Cobain).
O rock foi considerado um movimento rebelde. Foi caso de polícia. Várias prisões foram feitas, como as de Keith Richards e Jim Morrison - as cenas dos policiais nos shows do The Doors tornaram-se históricas. Hoje dia, ninguém leva essa premissa do "rebelde" a sério. Uma estrela do rock é milionária e nada há de errado nisso, aos olhos do público e dos meios de comunicação. Os líderes do movimento punk tentaram, sem sucesso, resgatar a figura da "revolta" ligada ao rock. Basta lembrar que Johnny Rotten, dos Sex Pistols, virou John Lydon do PIL.
A auto-destruição leva a depressão... ou seria o contrário? O que importa é que no rock, o movimento "gótico" foi encarregado de levar adiante tal bandeira. Roupas negras, excesso de maquiagem, olhar sério ou triste, elogio ao suicídio, frieza, indiferença eram algumas das características desses músicos e seus seguidores. O grupo precursor foi o Joy Division, com a liderança de Ian Curtis, seguido por bandas como The Sisters of Mercy, Siouxsie and The Banshies e The Cure. Velvet Underground e o mesmo o movimento punk, de alguma forma, influenciaram esse movimento. Outra característica seria a auto-negação: os músicos do "goth rock" não se identificavam com tal estilo musical.
O rock, que sempre foi uma música simples, "de três acordes", como ironizava Tom Jobim, conseguiu ser mais superficial na chamada "pop music". Tratava-se de pura música comercial que usava uma "pose rock n' roll". Os exemplos são inúmeros, como Duran Duran, Eurythmics, B-52's, Tears For Fears, A-ha, entre outros.
Enfim, o rock foi a música da segunda metade do século XX, época em que o mundo viu a crise dos países considerados comunistas e o predomínio efetivo do capitalismo na sua forma de globalização. Nada poderia ser mais coerente, na medida em que esse estilo musical foi identificado também com o narcisismo, o individualismo e a superioridade de uns - os ídolos - sobre os outros - os fãs.
Muitos acreditam nas "verdades" ditas pelos líderes musicais e pelos líderes do sistema econômico. Outros questionam, são marginalizados, isso ocorre mesmo dentro de um movimento que deveria ser considerado, em sua essência, rebelde. Provavelmente, esse rótulo foi supervalorizado por aqueles que teorizavam sobre o rock. Elvis foi nacionalista, casado e serviu o exército. Foi o ídolo branco de uma música criada por negros. Ainda hoje, sobretudo no estilo heavy metal, existe racismo no rock. Revolta contra o sistema? Qual revolta? Quando? Onde? Contra quem? A favor do que? Se for considerado que, de fato, o rock é superficial, levantar tais questões não teriam sentido. O que fica então? O rock produz alienação e o ser humano precisa (também) de fantasia. Portanto, para quem gosta de barulho, "aumenta isso aí que é rock n' roll"...

sábado, 28 de maio de 2011

JIMMY PAGE & KEITH RICHARDS

A minha banda de rock preferida é o Led Zeppelin. Todos os álbuns são perfeitos. Encerraram a carreira no auge e pronto. As apresentações que ocorreram com os membros juntos - como no casamento de Jason Bonham, no Live Aid ou no show da Atlantic Records -, eles recusaram o uso do nome da banda. Somente em 2007, numa homenagem especial, eles usaram o nome do grupo e tocaram uma hora e meia. Foi o evento do ano na Inglaterra. Mick Jagger estava lá, para conferir o show.
Na década de 1970, havia uma rivalidade entre as bandas. No entanto, de fato, o Jimmy Page participou, como convidado, de alguns discos dos Rolling Stones, tanto nos anos 1960 como nos anos 1980. Ele tem a admiração de Keith Richards.
Felizmente, eu tive a oportunidade de ver os dois guitarristas tocarem ao vivo. Vi o Jimmy Page duas vezes e o Keith Richards cinco, todas aqui no Brasil. Em relação aos Rolling Stones, em 2006, eu havia comprado os ingressos para ver o show deles em Frankfurt, mas não foi possível fazer a viagem.
Não vi o Led Zeppelin, nem o Yardbirds, nem The Firm. Nunca vi o John Paul Jones tocar ao vivo - adoro o seu disco "Zooma", a música "Drum n' Bass" é perfeita.
Quanto aos Stones, a primeira vez foi inesquecível: em São Paulo, caía um chuva muito forte e fiquei com medo do show ser cancelado. O Barão Vermelho, que abriu o show, tentou, mas não deu para tocar debaixo de daquela chuva, por causa dos choques elétricos dos instrumentos - coisa que não aconteceria com os Stones.
Era a "Voodoo Lounge Tour". Apesar da chuva, a banda entrou no horário e os músicos tocaram normalmente, Mick Jagger, com um chapéu, cantando, dançando e animando o público como se fosse um dia de sol.
Foi muito profissionalismo, o que se confirmaria nos outros shows que vi deles. Lembro-me, além das músicas, da cobra gigante sobre o palco jorrando fogo e o final com a festa de fogos de artifício - coisa que não aconteceu no show de Copacabana em 2006.
O melhor show que vi deles foi na "Bridges To Babylon Tour", na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro. Bob Dylan abriu para os Stones e cantou junto com eles "Like a Rolling Stone". Fiquei na pista, na primeira fila. Perfeito. Uma imagem que marcou foi o início, com todas as luzes apagadas e somente o Keith Richards entrou no palco e tocou os acordes iniciais de "Satisfaction". A Apoteose veio "abaixo", claro... Quando ele foi cantar no lugar do Mick Jagger, como sempre acontece, teve que esperar um pouco, pois o público, para recepcioná-lo, não parava de gritar "tô maluco!" Tratava-se de uma referência clara ao passado de drogas do guitarrista.
Enfim, utilizando as palavras da banda: "time waits for no one". Foi bom ter vivido esses momentos. "Life can be cool sometimes..."