domingo, 29 de maio de 2011

DIVAGAÇÕES SOBRE O ROCK N' ROLL

Se o rock nasceu em 1955, ele morreu com o suicídio de Kurt Cobain e o fim do Nirvana. No início, os ídolos do rock n' roll demonstravam, em suas atitudes algumas, as características que seriam marcantes nesse estilo musical: o "sex symbol" Elvis Presley, a rejeição da imagem do "velho" de Bill Harley, a homossexualidade de Little Richards e o cantor-guitarrista Chuck Berry.
Outro ponto relevante foi a maioria de homens em todas a história do rock. Raros foram os grupos só de mulheres como Runaways e L7. As mulheres ocupavam mais o papel das fãs, desde as adolescentes histéricas da beatlemania às "groupies" da década de 1970. Se o rock foi um movimento, sem dúvida, ele foi machista. O lema "sexo, drogas e rock n' roll" não alterava o modelo tradicional de casal heterossexual. O que mudaria seria a liberdade na vida sexual dos casais. Os méritos das conquistas das mulheres e dos homossexuais pertencem a esses movimentos específicos e não ao rock n' roll.
O rock era algo dos jovens. Havia a idéia de que seria bom morrer antes de envelhecer. Muitos acreditaram nisso. Na década de 1960, era dito que não se podia confiar numa pessoa com mais de 30 anos. O "ser" jovem foi substituído, na prática, faz tempo, pelo "parecer" jovem. Os ídolos do rock não podem ser gordos e caretas. A auto-destruição criou mitos como Jimi Hendrix, Janis Joplin e o próprio Kurt Cobain. As mortes, normalmente, estavam associadas ao uso excessivo de drogas (Hendrix e Joplin) - ou de álcool (Bon Scott e John Bonham) ou mesmo ao suicídio (Ian Curtis e Kurt Cobain).
O rock foi considerado um movimento rebelde. Foi caso de polícia. Várias prisões foram feitas, como as de Keith Richards e Jim Morrison - as cenas dos policiais nos shows do The Doors tornaram-se históricas. Hoje dia, ninguém leva essa premissa do "rebelde" a sério. Uma estrela do rock é milionária e nada há de errado nisso, aos olhos do público e dos meios de comunicação. Os líderes do movimento punk tentaram, sem sucesso, resgatar a figura da "revolta" ligada ao rock. Basta lembrar que Johnny Rotten, dos Sex Pistols, virou John Lydon do PIL.
A auto-destruição leva a depressão... ou seria o contrário? O que importa é que no rock, o movimento "gótico" foi encarregado de levar adiante tal bandeira. Roupas negras, excesso de maquiagem, olhar sério ou triste, elogio ao suicídio, frieza, indiferença eram algumas das características desses músicos e seus seguidores. O grupo precursor foi o Joy Division, com a liderança de Ian Curtis, seguido por bandas como The Sisters of Mercy, Siouxsie and The Banshies e The Cure. Velvet Underground e o mesmo o movimento punk, de alguma forma, influenciaram esse movimento. Outra característica seria a auto-negação: os músicos do "goth rock" não se identificavam com tal estilo musical.
O rock, que sempre foi uma música simples, "de três acordes", como ironizava Tom Jobim, conseguiu ser mais superficial na chamada "pop music". Tratava-se de pura música comercial que usava uma "pose rock n' roll". Os exemplos são inúmeros, como Duran Duran, Eurythmics, B-52's, Tears For Fears, A-ha, entre outros.
Enfim, o rock foi a música da segunda metade do século XX, época em que o mundo viu a crise dos países considerados comunistas e o predomínio efetivo do capitalismo na sua forma de globalização. Nada poderia ser mais coerente, na medida em que esse estilo musical foi identificado também com o narcisismo, o individualismo e a superioridade de uns - os ídolos - sobre os outros - os fãs.
Muitos acreditam nas "verdades" ditas pelos líderes musicais e pelos líderes do sistema econômico. Outros questionam, são marginalizados, isso ocorre mesmo dentro de um movimento que deveria ser considerado, em sua essência, rebelde. Provavelmente, esse rótulo foi supervalorizado por aqueles que teorizavam sobre o rock. Elvis foi nacionalista, casado e serviu o exército. Foi o ídolo branco de uma música criada por negros. Ainda hoje, sobretudo no estilo heavy metal, existe racismo no rock. Revolta contra o sistema? Qual revolta? Quando? Onde? Contra quem? A favor do que? Se for considerado que, de fato, o rock é superficial, levantar tais questões não teriam sentido. O que fica então? O rock produz alienação e o ser humano precisa (também) de fantasia. Portanto, para quem gosta de barulho, "aumenta isso aí que é rock n' roll"...