Peter Grant não era um exemplo de homem educado. Ao contrário. Ele
tinha fama de um gangster violento. Ele aparece assim no filme do Led
Zeppelin. A sua relação com Jimmy Page, porém, vinha desde a época dos
Yardbirds. Nada havia mudado (como lembra a jornalista Chris Welch):
“Na verdade, ele [Peter Grant] tinha um prazer diabólico ao oferecer
proteção física aos seus jovens e vulneráveis músicos. Quando uns
marinheiros começaram a zombar do Jeff
Beck, com seu longo cabelo, e de Jimmy Page, durante uma viagem aos
Estados Unidos, na época do Yardbirds, Peter entraria em ação. Ele
lembraria mais tarde:
‘Nós três estávamos voando para Miami, me
virei e ouviu esses caras. Um deles parecia ser durão, então levantei o
sujeito pelo braço e disse:
- Ok, qual é o seu problema Popeye? E o outro correu na hora…’” (Chris Welch, Peter Grant: The Man Who Led Zeppelin)
Por outro lado, Peter Grant teria sido vítima de um fato inusitado:
“Depois de se apresentar ao Bob Dylan em uma festa de LA, Grant
ofereceu um caloroso aperto de mão. ‘Eu sou Peter Grant, empresário do
Led Zeppelin’, disse ele. Dylan respondeu: ‘Eu não te procuro com os
meus problemas, certo?’”*
Bob Dylan era direto e não fazia
questão de ser cordial com os outros. Entretanto, não dava para
compreender tamanha indelicadeza e de forma tão gratuita.
Jimmy
Page, em uma de suas entrevistas em 2014, deu um depoimento que poderia
esclarecer a visão que Dylan tinha dele (e provavelmente do Led
Zeppelin):
“Para ser realmente honesto, eu gostaria de ter
trabalhado com Bob Dylan. Ainda há tempo, mas houve um período em que eu
realmente gostaria de ter trabalhado com ele. Na época, ele tinha feito
a sua conversão ao cristianismo e todos achavam que eu era o diabo
encarnado. Talvez ele poderia pensar que essa não seria a melhor
[ideia]. Ele pode ter imaginado que seria como misturar água e óleo,
mas, na verdade, em termos musicais, eu teria sido muito bom para ele.”
Quando teve a sua aproximação com o cristianismo (na década de 1970),
Bob Dylan teria escolhido o caminho oposto ao de Jimmy Page. O
guitarrista do Led Zeppelin defendia o ocultismo e fazia muitas críticas
à religião cristã. O seu grupo poderia como "um símbolo" do que ele
pensava e isso aparecia nas imagens e nas letras apresentadas da banda.
Neste contexto, não havia possibilidade de uma parceria musical entre
Bob Dylan e Jimmy Page (como ele afirmou no depoimento em 2014). A
distância que Bob Dylan queria do Led Zeppelin, pelo visto, apareceu
ainda no tratamento grosseiro dado ao empresário da banda.
Não
existe cordialidade nas ações das pessoas envolvidas nesta história.
Peter Grant foi vítima de uma grosseira de Bob Dylan, mas ele próprio se
orgulhava da maneira hostil e violenta que utilizava no tratamento dos
outros (no sentido de atender os interesses do Led Zeppelin).
(*) http://www.reddit.com/r/todayilearned/comments/rejzs/til_once_introducing_himself_to_bob_dylan_at_an/