A inspiração aparece. A obra vem em seguida. Genética? Excesso de trabalho? Como explicar?
Keith Richards, apesar da fama e de todas as belas melodias criadas
para os Rolling Stones, possuía uma outra explicação: costumava dizer
que ele seria só um “intermediário” que receberia as músicas de algum
lugar. Em “Satisfaction”, por exemplo, ele dizia que a melodia teria
surgido em um sonho. Quando acordou, claro, simplesmente fez a música. John Lennon, em sua última entrevista, apresentou outra teoria:
“[Os Rolling Stones] queiram uma música e nós fomos ver que tipo de
coisa eles faziam. Paul tinha um trecho de uma música e nós a
cantarolamos para eles. Eles disseram: ‘OK, é o nosso estilo”. Mas era
realmente só um trecho, tanto que Paul e eu fomos para um canto da sala e
completamos a canção, enquanto eles estavam lá, papeando. Voltamos para
Mick e Keith, que disseram: ‘Meu Deus, vejam isto. Eles foram lá e já
terminaram’. Demos a música para eles. Uma esmola. Isso mostra a
importância que a gente atribuía a eles. Nós não lhes daríamos algo que
fosse realmente estrondoso, não é? Era o primeiro disco dos Stones. De
qualquer forma, Mick e Keith disseram: ‘Se eles podem fazer uma música
assim tão facilmente, nós poderemos tentar.” (As 30 Melhores Entrevistas
de Playboy, p. 310)
Ainda sobre a maneira de criar as músicas,
no caso de Keith Richards, outro dado importante seria a inspiração
associada ao consumo de drogas. Isso ficou claro na época da produção de
uma obra prima “Exile On Main Street”:
“Dia após dia, Keith
fica doidão e demora no banheiro do andar de cima – enquanto isso, Mick e
o restante dos Rolling Stones ficam sentados, esperando. Mick não pode
fazer nada para obrigar Keith a criar novas melodias para as quais possa
compor as letras. Ele está totalmente na palma da mão de seu amigo mias
antigo. Da mesma maneira, sem a ajuda de Mick, Keith não tem como
terminar o álbum em que os Stones estão trabalhando. Sem o disco, os
Stones não podem fazer turnê nos Estados Unidos. Sem o dinheiro que vão
ganhar, não têm como sobreviver enquanto banda.” (Robert Greenfield,
Memória do Exílio, Rolling Stone, Março 2007, p. 74)
Compor não
era simples. Não era fácil também depender dos outros, ainda mais em um
grupo de rock. No entanto, a dupla de criação dos Rolling Stones
superaria a dos Beatles em termos de longevidade. Bem ou mal, depois de
mais de 50 anos, Keith Richards e Mick Jagger ainda estão por aí,
criando novas canções e fazendo shows juntos.