(*) Este texto foi publicado anteriormente (com outro título).
O Led Zeppelin foi formado por dois experientes músicos de estúdio -
Jimmy Page e John Paul Jones - e dois jovens desconhecidos - Robert
Plant e John Bonham), sendo que um revolucionaria o jeito de tocar
bateria e definiria, de certa maneira, o caminho que o grupo iria tomar
(inicialmente, Page havia pensado em formar um grupo mais acústico,
"folk").
O mais inexpressivo no começo da banda era o vocalista
Plant - tão inexpressivo, que, na época, o assistente do empresário do
Led Zeppelin, Richard Cole (sim, aquele indivíduo de bigode que leva uma
bronca enorme de Peter Grant no filme "The Song Remais The Same")
mandou o vocalista comprar sanduíches para o pessoal do grupo (ver o
livro "Hammer of Gods"). Claro que logo essa situação mudaria e Robert
Plant seria um dos destaques do Zeppelin e um dos ícones do rock.
Depois do fim da banda, Plant gostava, algumas vezes, de fazer
trocadilhos ou falar mal do Led Zeppelin. Talvez ele nunca tenha
esquecido a humilhação de Richard Cole... Quando fez o seu primeiro
disco solo, "Pictures of Eleven", ele o mostrou para os ex-companheiros
Page e Jones. Page aprovou. Jones fez críticas:
"Bem, ah, eu
pensei que você poderia ter feito algo um pouquinho melhor, velho
amigo." Ao que Plant respondeu: "bem, obrigado. E mais uma vez, eu sou
apenas o cantor das músicas." (Guitar World, July 1986, p. 64)
Robert Plant não esqueceria as críticas de John Paul Jones. Quando
resolveu fazer o "unpplugged" da MTV com Jimmy Page e em seguida ambos
gravariam dois álbuns e realizariam duas tours, Plant responderia ao
baixista do Zeppelin. Sempre que era questionado por que Jones não havia
sido convidado para participar do projeto, Plant respondia com alguma
piada ou ironia, como "Jones ficou lá fora estacionando os carros..."
Quando Jimmy Page fez o projeto com David Coverdale, Robert Plant o
criticou bastante, sobretudo afirmando que Coverdale o imitava e que se o
que ele (Plant) fazia na época (do Zeppelin) já era ridículo, imagina o
que sobraria para os plagiadores.
Robert Plant exagerava, claro,
e não poupava nem a si mesmo. As ironias quanto à importância do Led
Zeppelin devem vir do fato de que tudo na banda era criado e controlado
por Jimmy Page. Não havia dúvidas de que se tratava do grupo de Jimmy
Page. Plant era "apenas o cantor das músicas." Apesar de ter feito
letras interessantes, como "That's the Way", "Going to California" e
"The Rain Song", o vocalista era acusado de plágio. A sua justificativa
seria que nem sempre dava para acompanhar a criatividade musical de
Jimmy Page. Ou seja, o guitarrista chegava com a música e ele tinha que
criar a letra. Nas palavras do próprio Robert Plant:
"O 'riff' do
Page é o 'riff' do Page e pronto. Ele estava lá antes de qualquer
coisa. Daí, eu pensava: 'bem, o que eu vou cantar?' Foi isso [com a
letra de Whole Lotta Love], um plágio. Ainda bem que agora já foi pago.
Na época, houve muita conversa sobre o que fazer. Foi decidido que a
música estava tão além do seu tempo... Bem, você só é descoberto quando
faz sucesso. Esse é o jogo." (Musician, June 1990, p. 47)
O
reconhecimento do talento de Jimmy Page não era feito somente pelos
companheiros de banda. Na época em que era músico de estúdio, Page
participou de gravações de grupos como The Who e The Kinks. Keith
Richards conheceu Page com a ajuda de Ian Stweart (o "sexto" stone) -
aliás, Stu foi um dos poucos que participou de um disco oficial do Led
Zeppelin. Jimmy Page participou de alguns discos dos Stones na década de
1960, assim como John Paul Jones. Depois do fim do Zeppelin, Richards
chamou Page para ajudar no álbum "Dirty Work". Sobre a relação entre os
dois, Richards lembrou uma história interessante:
"De fato, para
'Heart of Stone', Jimmy fez a demo original. Andrew [Loog Oldham,
produtor] iria passar a música para outra pessoa. Assim, quando
decidimos que 'nós' faríamos a música, eu copiei o solo de Jimmy (quase)
nota por nota." (Guitar World, July 1986, p. 72)
Falar da
história do rock é tratar de egos e de ironias. Talvez por isso seja
praticamente impossível pensar numa análise freudiana no que diz
respeitos os ícones deste estilo musical...