domingo, 25 de maio de 2014

PETER GRANT & BILL GRAHAM

Bill Graham foi promotor de shows de rock nas décadas de 1960 e 1970. Tinha fama de durão e de se impor nas negociações com os empresários dos grupos de rock, exceto, claro, com Peter Grant do Led Zeppelin.

Os dois se odiavam, mas eles tinham que negociar, afinal, o Zeppelin era a maior banda nos anos 1970 e Graham era o mais importante promotor de shows nos Estados Unidos no período.

Era meio previsível que, numa hora qualquer, um atrito entre os dois iria ocorrer. E aconteceu em 1977. De acordo Chris Welch:

“Foi durante essa turnê que o incidente ocorreu e que rendeu ao grupo má imprensa e um mal-estar dentro da indústria da música. Em 23 de julho em Oakland (Califórnia), Peter Grant, o homem que fazia a sua segurança - John Bindon -, John Bonham e Richard Cole se envolveram num briga séria com um empregado do Bill Graham. Eles foram acusados de agressão e liberados sob fiança.”
(The Story of Led Zeppelin. In.: HM Photo Book)

Simples?! Claro que não. Se Graham gostava de manter uma imagem de durão, Peter Grant, na prática, era esse homem, tanto que aparecem cenas dele dando broncas em várias pessoas no show do Madison Square Garden no filme “The Song Remains The Same”. Para defender os interesses do Led Zeppelin, Grant fazia de tudo, até interromper shows de outros grupos em festivais para não atrapalhar a hora de entrada de seus músicos.

Peter Grant era autoritário e violento. Não foi por acaso que quis ser retratado como um mafioso no filme oficial do Led Zeppelin. O seu braço direito – Richard Cole – era pior. Os dois mais o baterista John Bonham protagonizaram várias cenas de violências nos bastidores dos shows do grupo.

Quando ocorriam problemas com o Led Zeppelin (e eram muitos – drogas, orgias, envolvimento com garotas com menos de 18 anos, brigas e ataques violentos até contra jornalistas – que, por sinal, insistiam em falar mal do grupo -, magia negra, destruição de hotéis...), Peter Grant colocava os músicos em limousines e os encaminhavam direto para o avião particular da banda. O empresário ficava e resolvia – normalmente com muito dinheiro – o que precisava ser resolvido.

Jimmy Page tentava amenizar a fama do Led Zeppelin na década de 1970:

"Havia apenas a coisa com Bill Graham e houve só um caso de briga fora do palco. Mas eu não sei como aconteceu. Eu sei que essa coisa de vibração pesada cercou-nos, mas era mais em tom de gozação. De fato, você não poderia encontrar um homem mais gentil do que Peter Grant, mas as pessoas não compreendiam o estilo dele.” (
Chris Welch, The Story of Led Zeppelin. In.: HM Photo Book)

Certamente Grant era gentil e fazia tudo por seus músicos. Entretanto (e talvez exatamente por isso), isso não significava ser cordial com os outros fora do universo do Led Zeppelin. Quanto ao incidente relatado por Chris Welch e Jimmy Page, maiores detalhes aparecem no livro “Hammer of the Gods”:

“Durante dez anos, Peter Grant e Bill Graham acusavam um ao outro serem só blefes. Em 23 de julho, a noite do primeiro show de Oakland, houve finalmente um confronto entre eles. Tudo começou com o filho de Peter Grant, Warren, que estava acompanhando a turnê. Havia uma placa escrita à mão (dizendo) 'Led Zeppelin' na porta de um dos trailers, e o jovem Grant pediu a um dos seguranças de Bill Graham se ele poderia levar a placa. De acordo com Richard Cole, o segurança empurrou Warren para mantê-lo distante. Bonzo, fora do palco por um momento, viu, aproximou-se, amaldiçoou o segurança e o chutou algumas vezes antes de voltar ao palco. Em seguida, foi dito ao Peter Grant que alguém tinha machucado seu filho, e Grant e John Bindon levaram esse segurança para dentro de um trailer, enquanto Richard Cole vigiava tudo do lado de fora. A equipe de Graham veio em auxílio do colega e foi espancada por Cole quando tentou entrar no trailer. Quando a equipe de Graham finalmente entrou no trailer, havia sangue para todo o lado, sendo que o segurança havia sido vítima de uma prolongada e firme surra. Ele, então, foi levado para um hospital.” (Stephen Davis, Hammer of the Gods, p. 197)

O Led Zeppelin ainda tocou mais duas noites no mesmo lugar. Peter Grant obrigou Graham a assinar um documento tirando a responsabilidade da equipe do Led Zeppelin no espancamento do segurança. Na medida em que tal documento não tinha valor jurídico, Graham tentou processar os envolvidos. O resultado final saiu só no ano seguinte:

“Em fevereiro de 1978, por meio de seus advogados, John Bonham, Peter Grant, Richard Cole e John Bindon procuraram se defender das acusações decorrentes do episódio no Oakland Coliseum em julho do ano anterior. Todos os quatro foram considerados culpados e obrigados a pagar multas e as penas foram suspensas. Desde que os quatro não foram obrigados a comparecer no tribunal, as acusações contra eles, de fato, nunca foram ouvidas. Bill Graham ficou furioso porque, mais uma vez, o Led Zeppeln tinha se safado perante a lei.” (Stephen Davis, Hammer of the Gods, p. 200)

Na verdade, o que importa mesmo é que todo esse clima era típico dos anos 1970. Aliás, é por isso que o Led Zeppelin tornou-se símbolo da década. As tentativas de reunir o grupo não deram certo não só por causa da morte de John Bonham – que era “o motor da máquina” – mas também pela falta de Peter Grant.

Deve ser considerado ainda que os anos 1970 acabaram. O mundo mudou. O estilo de vida do Led Zeppelin não caberia mais nas décadas seguintes. E, muito importante, ficou a lenda com uma trilha sonora perfeita. Isso não é pouco no universo do rock n’ roll.