Bill Graham foi promotor de shows de rock nas décadas de 1960 e 1970.
Tinha fama de durão e de se impor nas negociações com os empresários dos
grupos de rock, exceto, claro, com Peter Grant do Led Zeppelin.
Os dois se odiavam, mas eles tinham que negociar, afinal, o Zeppelin
era a maior banda nos anos 1970 e Graham era o mais importante promotor
de shows nos Estados Unidos no período.
Era meio previsível que, numa hora qualquer, um atrito entre os dois iria ocorrer. E aconteceu em 1977. De acordo Chris Welch:
“Foi durante essa turnê que o incidente ocorreu e que rendeu ao grupo
má imprensa e um mal-estar dentro da indústria da música. Em 23 de julho
em Oakland (Califórnia), Peter Grant, o homem que fazia a sua segurança
- John Bindon -, John Bonham e Richard Cole se envolveram num briga
séria com um empregado do Bill Graham. Eles foram acusados de agressão e
liberados sob fiança.” (The Story of Led Zeppelin. In.: HM Photo Book)
Simples?! Claro que não. Se Graham
gostava de manter uma imagem de durão, Peter Grant, na prática, era esse
homem, tanto que aparecem cenas dele dando broncas em várias pessoas no
show do Madison Square Garden no filme “The Song Remains The Same”.
Para defender os interesses do Led Zeppelin, Grant fazia de tudo, até
interromper shows de outros grupos em festivais para não atrapalhar a
hora de entrada de seus músicos.
Peter Grant era autoritário e
violento. Não foi por acaso que quis ser retratado como um mafioso no
filme oficial do Led Zeppelin. O seu braço direito – Richard Cole – era
pior. Os dois mais o baterista John Bonham protagonizaram várias cenas
de violências nos bastidores dos shows do grupo.
Quando
ocorriam problemas com o Led Zeppelin (e eram muitos – drogas, orgias,
envolvimento com garotas com menos de 18 anos, brigas e ataques
violentos até contra jornalistas – que, por sinal, insistiam em falar
mal do grupo -, magia negra, destruição de hotéis...), Peter Grant
colocava os músicos em limousines e os encaminhavam direto para o avião
particular da banda. O empresário ficava e resolvia – normalmente com
muito dinheiro – o que precisava ser resolvido.
Jimmy Page tentava amenizar a fama do Led Zeppelin na década de 1970:
"Havia apenas a coisa com Bill Graham e houve só um caso de briga fora
do palco. Mas eu não sei como aconteceu. Eu sei que essa coisa de
vibração pesada cercou-nos, mas era mais em tom de gozação. De fato,
você não poderia encontrar um homem mais gentil do que Peter Grant, mas
as pessoas não compreendiam o estilo dele.” (Chris Welch, The Story of Led Zeppelin. In.: HM Photo Book)
Certamente Grant era gentil e fazia tudo por seus músicos. Entretanto (e
talvez exatamente por isso), isso não significava ser cordial com os
outros fora do universo do Led Zeppelin. Quanto ao incidente relatado
por Chris Welch e Jimmy Page, maiores detalhes aparecem no livro “Hammer
of the Gods”:
“Durante dez anos, Peter Grant e Bill Graham
acusavam um ao outro serem só blefes. Em 23 de julho, a noite do
primeiro show de Oakland, houve finalmente um confronto entre eles. Tudo
começou com o filho de Peter Grant, Warren, que estava acompanhando a
turnê. Havia uma placa escrita à mão (dizendo) 'Led Zeppelin' na porta
de um dos trailers, e o jovem Grant pediu a um dos seguranças de Bill
Graham se ele poderia levar a placa. De acordo com Richard Cole, o
segurança empurrou Warren para mantê-lo distante. Bonzo, fora do palco
por um momento, viu, aproximou-se, amaldiçoou o segurança e o chutou
algumas vezes antes de voltar ao palco. Em seguida, foi dito ao Peter
Grant que alguém tinha machucado seu filho, e Grant e John Bindon
levaram esse segurança para dentro de um trailer, enquanto Richard Cole
vigiava tudo do lado de fora. A equipe de Graham veio em auxílio do
colega e foi espancada por Cole quando tentou entrar no trailer. Quando a
equipe de Graham finalmente entrou no trailer, havia sangue para todo o
lado, sendo que o segurança havia sido vítima de uma prolongada e firme
surra. Ele, então, foi levado para um hospital.” (Stephen Davis,
Hammer of the Gods, p. 197)
O Led Zeppelin ainda tocou mais
duas noites no mesmo lugar. Peter Grant obrigou Graham a assinar um
documento tirando a responsabilidade da equipe do Led Zeppelin no
espancamento do segurança. Na medida em que tal documento não tinha
valor jurídico, Graham tentou processar os envolvidos. O resultado final
saiu só no ano seguinte:
“Em fevereiro de 1978, por meio de
seus advogados, John Bonham, Peter Grant, Richard Cole e John Bindon
procuraram se defender das acusações decorrentes do episódio no Oakland
Coliseum em julho do ano anterior. Todos os quatro foram considerados
culpados e obrigados a pagar multas e as penas foram suspensas. Desde
que os quatro não foram obrigados a comparecer no tribunal, as
acusações contra eles, de fato, nunca foram ouvidas. Bill Graham ficou
furioso porque, mais uma vez, o Led Zeppeln tinha se safado perante a
lei.” (Stephen Davis, Hammer of the Gods, p. 200)
Na verdade, o
que importa mesmo é que todo esse clima era típico dos anos 1970.
Aliás, é por isso que o Led Zeppelin tornou-se símbolo da década. As
tentativas de reunir o grupo não deram certo não só por causa da morte
de John Bonham – que era “o motor da máquina” – mas também pela falta de
Peter Grant.
Deve ser considerado ainda que os anos 1970
acabaram. O mundo mudou. O estilo de vida do Led Zeppelin não caberia
mais nas décadas seguintes. E, muito importante, ficou a lenda com uma
trilha sonora perfeita. Isso não é pouco no universo do rock n’ roll.